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quarta-feira, 19 de março de 2014

O ROMANTISMO EM PORTUGAL


Em Portugal o Romantismo está diretamente ligado às lutas liberais, porque os escritores românticos mais representativos deste movimento estético – Garrett e Herculano – foram combatentes liberais. Qualquer destes escritores foi exilado político na altura das lutas liberais, tendo vivido na França e Inglaterra. Ao regressarem, trouxeram consigo os ideais deste novo movimento estético-literário que introduziram em Portugal.
Assim, é o poema Camões de Almeida Garrett, publicado em Paris em 1825, que é considerado o marco inicial do Romantismo em Portugal. Mas o Romantismo como movimento literário firma-se só a partir de 1936, com a criação da revista Panorama, na qual se publicaram textos românticos de importantes escritores portugueses, como Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, João de Deus e Júlio Dinis, além de Alexandre Herculano. É válido ressaltar que o Romantismo em Portugal durou cerca de 40 anos terminando por volta de 1865 com a Questão Coimbrã. No entanto, é de notar que, em 1865 e depois, muitos prosadores e poetas românticos publicam ainda com grande sucesso muitas das suas obras.

Características do Romantismo em Portugal:
1. Expressão plena dos estados da alma, das paixões e das emoções.
2. Exaltação da liberdade individual e social.
3. Gosto por ambientes solitários e noturnos, considerados mais propícios às confidências e aos desabafos sentimentais.
4. Visão da natureza como exemplo da manifestação do poder de Deus e como refúgio acolhedor para o homem que busca paz interior, longe das perturbações da vida em sociedade.
5. Individualismo: O "eu" é a figura principal; predomínio da primeira pessoa.
6. Emoção: subjetivismo, imaginação, desejos, expressão do "eu interior".
7. Liberdade de criação: abandono das formas fixas dos modelos clássicos (ode, soneto, decassílabos); abandono das rimas e valorização dos versos brancos (versos não rimados); mistura dos gêneros; neologismos (palavras novas); aproximação da linguagem literária da coloquial.
8. Religiosidade: é vista como um ponto de apoio ou válvula de escape diante das frustrações do mundo real.
9. A atração pela melancolia, pela solidão e pela morte como solução para todos os males.
10.  A sacralização do amor – O amor é um sentimento vivido de forma absoluta, exagerada e contraditória, precisamente por ser um ideal inatingível. A mulher ou é um ser angelical bom (mulher-anjo, que leva à salvação), ou é um ser angelical mau (mulher-demônio, que leva à perdição).
11. O “mal du siède” ou o “spleen” – É o pessimismo, o cansaço doentio e melancólico, a solidão, uma espécie de desespero de viver, resultante da posição idealista que mantém perante a vida. Por isso, o romântico é sempre um ser incompreendido que cultiva o sofrimento e a solidão.

As Fases do Romantismo em Portugal:
Em Portugal sucederam-se três gerações de poetas e prosadores românticos, cada qual com as suas características.

A primeira geração (1825 -1840) - caracterizada por autores que começaram ainda presos a certos princípios neoclássicos, mas que foram responsáveis pela consolidação do novo estilo, destacam-se:

01. Almeida Garrett
João Baptista da Silva Leitão, que mais tarde chamado de Visconde de Almeida Garrett  (Porto, 4 de Fevereiro de 1799 - Lisboa, 9 de Dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romântico,  orador, par do Reino, ministro e secretário de Estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do Romantismo português.
Possuía um talento flexível para escrever, imprimindo em suas obras uma notável individualidade, elegância e originalidade.
Embora tenha se dedicado a vários gêneros literários, foi na poesia e no teatro que mais ganhou destaque. Suas obras “Camões” e “Frei Luis de Sousa” ganharam grande importância no mundo literário.
Até os dias atuais é um dos escritores, do século XIX, mais lidos em Portugal. Influenciou as gerações futuras da literatura portuguesa.

Principais obras de Almeida Garrett:
- Camões (1825)
- Dona Branca (1826)
- Adozinda (1828)
- Catão (1828)
- Romanceiro (1843)
- Cancioneiro Geral (1843)
- Frei Luis de Sousa (1844)
- Flores sem Fruto (1844)
- D’o Arco de Santana (1845)
- Folhas Caídas (1853)

02. Alexandre Herculano
Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (Lisboa, 28 de Março de 1810 — Santarém, 13 de Setembro de 1877) escritor da era do Romantismo, historiador, jornalista, e poeta português.
Um dos principais expoentes do romantismo português, além de romancista, tem uma vasta atuação como historiador, jornalista e poeta. Basta lembrar, entre suas pesquisas, as publicações História de Portugal, História da origem e estabelecimento da Inquisição em Portugal e Portugalia e Monumenta Historica, uma coleção de documentos valiosos recolhidos de cartórios conventuais do país.
O ponto mais forte de Herculano, justamente por essa formação, é a narrativa histórica. Sua prosa traz elementos mistos do historiador, manifestado na detalhada reconstituição de ambientes e costumes do passado, com a do escritor capaz de criar e desenvolver narrativas.

A Principal obra de Alexandre Herculano
Publicado em 1844, “Eurico, o presbítero” é um romance histórico. A obra enfoca o fim do reino visigodo formado na região que hoje engloba Espanha e Portugal, com a chegada vitoriosa dos muçulmanos. Nesse contexto, relacionam-se os protagonistas, Eurico e Hermengarda.
O guerreiro Eurico, de origem humilde, após conquistas nos campos de batalha, pede ao Duque da Cantábria a mão de sua filha Hermengarda. O nobre recusa, e o jovem, desiludido, volta-se para a vida religiosa. Torna-se, assim, presbítero, na esperança que a vida litúrgica e a composição de poemas e hinos que tratam de temas sagrados o façam esquecer seu grande amor.
Tudo muda quando os árabes invadem a Península Ibérica. Eurico transforma-se num emblemático Cavaleiro Negro. Logo ganha destaque pela bravura, animando os visigodos a enfrentar os invasores. A situação se complica, porém, quando os árabes dominam o Mosteiro da Virgem Dolorosa e raptam Hermengarda.
O heroico Cavaleiro a salva e impede que ela seja violentada. Quando a heroína declara o seu amor, Eurico diz que nada pode ter com ela devido aos seus votos religiosos e revela a sua dupla identidade. A moça enlouquece e o soldado parte para o campo de batalha numa luta onde certamente perderá a vida, num final romântico em que a desconexão deste mundo chamado real é o único ponto de conexão possível para um amor infeliz.

As principais Obras de Alexandre Herculano:
- A Harpa do Crente – 1838
- Poesias – 1850
- O Fronteiro de África ou três noites aziagas, Drama histórico português em 3 atos.
Representou-se em Lisboa, em 1838, no teatro do Salitre.
Foi editado no Rio de Janeiro em 1862.
- Os Infantes em Ceuta – 1842
- O Pároco de Aldeia – 1825
- O Bobo – 1843
- O Monasticon
-  Eurico, o Presbítero: Época Visigótica – 1844
- O Monge de Cister; Época de D. João I - 1848

A segunda geração (Ultra-Romantismo / 1840 – 1860)  contou com escritores que atingiram o pleno domínio das propostas românticas. A visão egocêntrica do mundo, os temas medievais, o tédio, a melancolia, a atração pela morte, a projeção de sentimentos na natureza, todas essas tendências fizeram-se sentir  intensamente durante esse período. Além dos poemas melancólicos tidos como “mal do século” .

Os seus principais representantes são:

01. Camilo Castelo Branco
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (Lisboa, 16 de Março de 1825 - São Miguel de Seide, 1 de Junho de 1890).Teve uma vida atribulada que lhe serviu muitas vezes de inspiração para as suas novelas passionais(Amor de Perdição, Carlota Ângela, Amor de Salvação) Satíricas (Coração,Cabeça, Estômago/ A queda dum anjo) e de Influência realista( Eusébio Macário, A corja, A brasileira de Prazins) . Foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente dos seus escritos literários. Apesar de ter de escrever para um público, sujeitando-se assim aos ditames da moda, conseguiu ter uma escrita muito original. Camilo Castelo Branco teve uma vida atribulada, passional e impulsiva. Uma vida tipicamente romântica.

A Principal obra de Camilo Castelo Branco

Amor de Perdição
Novela composta em 1862, por Camilo Castelo Branco, durante o tempo em que o autor esteve preso por adultério na cadeia da Relação do Porto. Foi baseada num episódio real da vida de um tio seu, Simão Botelho, que lhe teria sido contado por uma tia, e cujo registro o autor teria encontrado nos livros de assentamentos da cadeia. No entanto, a manipulação e a ficção, por parte de Camilo, são de tal forma livres, que o converteu na novela sentimental mais famosa do Romantismo português.
O enredo é Ultra-Romântico: os protagonistas, Simão e Teresa, filhos de duas famílias inimigas de Viseu, os Botelhos e os Albuquerques, apaixonam-se. A conselho de Baltasar Coutinho, primo e prometido de Teresa, despeitado pelo ciúme, Tadeu de Albuquerque decide encerrar a filha no convento de Monchique, no Porto. Simão espera-os à saída de Viseu, trava-se de razões com Baltasar e mata-o a tiro, entregando-se logo à justiça. Preso na cadeia da Relação do Porto, é condenado ao degredo. Ao embarcar para a Índia, Simão ainda consegue avistar o vulto da sua amada, que se despede dele, já moribunda, esgotada pela desgraça. Horas depois, Simão toma conhecimento da morte de Teresa e morre também. A personagem mais verdadeira da novela, e que rompe com o convencionalismo romântico, é, contudo, Mariana, uma rapariga do povo, boa e abnegada, que, sentindo por Simão um amor absoluto e sem esperança, serve de intermediária entre Simão e Teresa, decidindo depois acompanhá-lo no exílio e suicidar-se após a morte dele, abraçando-se ao seu cadáver atirado ao mar.
À narrativa passional e trágica, onde o amor, o ódio e a vingança, nos seus múltiplos cambiantes surgem extremados, estaria também subjacente, segundo alguns estudiosos da obra camiliana, uma intenção de crítica social, pretendendo Camilo denunciar a obediência cega da sociedade ao preconceito obsoleto da honra familiar.

As principais Obras de Camilo Castelo Branco:
-  A Filha do Arcediago - 1855
- Onde está a Felicidade? - 1856
-  Vingança - 1858
-  O Romance dum Homem Rico – 1861
- Amor de Perdição – 1862
-  Memórias do Cárcere – 1862
- O Bem e o Mal – 1863
-  Vinte Horas de Liteira – 1864
-  A Queda dum Anjo – 1865
-  O Retrato de Ricardina – 1868
-  A Mulher Fatal – 1870
-  O Regicida – 1874
- Novelas do Minho - 1875-1877
- Eusébio Macário – 1879
-  A Brasileira de Prazins, 1882.

02. Soares Passos
Antonio Augusto Soares de Passos (Porto, 27 de Novembro de 1826 – Porto, 8 de Fevereiro de 1860) foi um poeta, expoente máximo do Ultra-Romantismo em Portugal.
Nascido no seio da média burguesia comerciante portuense, viveu largas temporadas da infância com o pai ausente, fugido às perseguições que lhe moveram durante as guerras civis pelas suas idéias liberais, o que terá marcado o temperamento algo soturno do jovem Antonio Augusto. Tendo aprendido francês e inglês durante a juventude, ingressou na Universidade de Coimbra, em 1849, para cursar Direito.
Em Coimbra conviveu com outros estudantes do Porto, como Alexandre Braga, Silva Ferraz e Aires de Gouveia, com quem fundou, em 1851, a revista Novo Trovador. Em 1854, já formado, regressou ao Porto e, depois de uma passagem pelo Tribunal da Relação do Porto, decide dedicar-se exclusivamente à literatura, colaborando ativamente nos jornais de poesia O Bardo (1852-1854) e A Grinalda (1855-1869) e preparando a edição em volume das suas Poesias (1856).
Para a sua celebridade contribuiu não apenas a sua imagem de misantropo e a freqüência dos salões portuenses, como também o bom acolhimento dos críticos, nomeadamente de Alexandre Herculano que, em carta, considerou Soares de Passos como "o primeiro poeta lírico português deste século" (referindo-se ao século XIX).
Sua qualidade pode ser creditada ao fato de ter escrito com autenticidade, pois os sentimentos derramados em seu texto são os que realmente viveu, já que foi pessoa extremamente sofrida, por vezes dominada por uma doença que, reza a lenda, deixou-o preso por anos em seu quarto. Isso explica a proeza de ter trabalhado muito bem com clichês que nas mãos dos outros poetas são extremamente ridículos. Melhor exemplo disso é "O Noivado no Sepulcro".
Seus poemas são fruto de uma angústia da sensação da proximidade da morte precoce mesclada ao desgosto pela situação em que se encontrava seu país. O incrível é que sabe alternar esses aspectos sombrios a momentos de extrema confiança na mudança das condições sociais. Essas oposições dramáticas talvez sejam a causa da visão trágica com que o poeta enxerga o mundo. Quando parte para a religião, enfoca a tragédia de Deus castigando todos, quando enfoca a História, mostra uma sucessão de episódios lastimosos, quando olha o cotidiano, enxerga somente a desgraça.
Sendo um poeta muito divulgado no seu tempo, morreu precocemente aos trinta e quatro anos, vítima da tuberculose, deixando um livro único – Poesias (1855) – onde confluem todas as tendências do imaginário poético seu contemporâneo.

A terceira geração 1860 – 1870 – uma tendência à moderação, associada a uma linguagem menos inflamada dá aos românticos dessa geração um tom mais enxuto e verdadeiro. Diminui a dramaticidade e as personagens adquirem uma simplicidade que as aproxima das pessoas comuns.

Desta geração destaca-se:

01. Júlio Dinis
Joaquim Guilherme Gomes Coelho (Porto, 14 de Novembro de 1839 – Porto, 12 de Setembro de 1871) foi um médico e escritor português. Licenciou-se em Medicina na Escola Médica do Porto,onde também foi professor, mas foi principalmente à literatura que dedicou a maior parte da sua curta vida. Utilizou vários pseudônimos, sendo Júlio Dinis o principal e o que o tornou mais conhecido. É por muitos considerado como um escritor de transição entre o fim do Romantismo e o princípio do Realismo. Embora tenha escrito poesia e teatro, notabilizou-se principalmente como romancista.

A Principal obra de Julio Dinis
As Pupilas do Senhor Reitor, o melhor romance português do século, publicado inicialmente em 1866 em forma de folhetim, e só no ano seguinte apareceria em livro. Seu caráter moralizador e a religiosidade que perpassa por todo o romance, a bondade capaz de chegar a extremos quase incríveis de sacrifício pessoal, são alguns dos ingredientes que transformaram em muito pouco tempo o autor desconhecido em sucesso nacional. 
A calma da cidade do interior (Ovar - Portugal) e a observação da vida simples das pessoas da aldeia propiciaram o aparecimento desse romance que, algum tempo depois, se tornaria um dos mais famosos em Portugal.
Os capítulos são tipicamente folhetinescos: unidades narrativas com peripécias e final em suspensão. É um romance está cheio de ironias bem humoradas, tornando-o, apesar do moralismo intencional, de leitura mais agradável.
Como costuma acontecer com escritores românticos, Júlio Dinis também vê o mundo com as lentes do maniqueísmo. Assim, assenta sua obra em um jogo contínuo de oposições. Entre as principais, destacam-se: A cidade - O campo / A modernidade - A tradição / O desejo - O amor.
O romance  gira em torno da tese segundo a qual a vida simples e natural torna as pessoas alegres e felizes. Júlio Dinis descreve o campo, os tipos humanos, os hábitos e as idéias, desenvolvendo toda uma problemática pequeno-burguesa, com o “propósito de pregar uma moralização de costumes pela vida rural e pela influência de um clero convertido ao liberalismo”.

As principais Obras de Júlio Dinis:
-  Poesias - 1873
- Inéditos e Dispersos  - 1910
- Teatro Inédito - 1946-1947

02. João de Deus
João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de Março de 1830Lisboa, 11 de Janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico e pedagogo, considerado na época o primeiro do seu tempo e o proponente de um método de ensino da leitura, presente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objeto das mais variadas homenagens. Foi considerado o poeta do amor e encontra-se sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa. João de Deus ocupou uma posição singular e destacada. A sua poesia distinguiu-se, sobretudo, pela grande riqueza musical e rítmica.

As principais Obras de João de Deus:
- Flores do Campo  - 1868
- Folhas Soltas - 1876
- Campos de Flores - 1893

Além das obras citadas acima, foi ainda autor de fábulas e de obras destinadas ao teatro, estas na maior parte dos casos traduções e adaptações de autores estrangeiros. Grande parte da sua produção em prosa foi reunida na coletânea Prosas.

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